O boato de que o desafio da Momo (boneca virtual que orienta crianças a se machucarem) estava no YouTube Kids e notícias sobre grupos de bate-papos online sobre violência, frequentados pelos assassinos do massacre em Suzano (SP), ligaram sinal de alerta para pais e responsáveis. O que crianças e jovens estão fazendo na internet e como protegê-los? Especialistas garantem que orientá-los sobre como se comportar nestes ambientes é a melhor maneira de defendê-los de conteúdos impróprios.
— A mesma postura dos pais, que já orientam a não conversar com estranhos no mundo real, deve ser tomada em relação à internet — explica a educadora Andrea Ramal.
A conversa sobre o mundo virtual pode ser uma deixa para reforçar os valores daquela família, mostrar o que é certo e errado e aconselhar os filhos a como se comportar em situações nas quais são desafiados, como no caso da Momo.
— São os princípios éticos desenvolvidos desde a infância que asseguram a autoconfiança nos momentos em que não há alguém por perto para proteger. Como vivemos em uma sociedade competitiva, é importante frisar que não ceder a esses tipos de desafios é ser inteligente e que dizer “não” também é um ato de coragem — pontua Darlise Neves, psicóloga especialista em saúde mental.
Quando se trata de uma criança, os pais têm mais controle sobre o que é feito e visto na internet. Já no caso dos adolescentes, a melhor saída é o diálogo.
— É preciso que os responsáveis tirem da mente de seus filhos que os atos praticados na internet ficarão impunes. Tudo o que é feito no mundo real ou virtual implica em responsabilidades, que serão respondidas diante da lei — lembra Darlise.
Nas conversas, é preciso que os pais se mostrem disponíveis a ouvir e evitem broncas e castigos.
— Muitos filhos deixam de contar algo que viram ou que aconteceu na internet porque sentem medo de serem castigados pelos pais — diz Andrea.
‘Ela percebeu que o vídeo falava besteira’
Flávio Leal de Sousa , profissional de educação física de 41 anos e pai da Júlia, de 6
Sempre verifico todo o histórico do celular após minha filha usá-lo. Temos um aplicativo, por exemplo, que impede que ela entre em sites de conteúdo adulto. Conversamos abertamente sobre os perigos de alguns sites errados, sobre fraudes que podem acontecer na internet e colocamos horário para ela acessar. Uma vez, ela acessou um canal de um youtuber que falava um monte de palavrões e ela mesma percebeu que isto não era certo e nos mostrou dizendo que o vídeo estava “falando besteira”. Os pais, em vez de proibir os filhos de mexerem no celular, devem acompanhar a modernidade e perguntar aos pequenos o que há de novo, conhecer as plataformas e demonstrar interesse. É preciso usar a evolução tecnológica a nosso favor e não colocá-la como um inimigo para todos.
Tecnologia a favor
Além dos orientações sobre como se comportar no mundo virtual, os pais podem complementar a proteção ativando alguns mecanismos de segurança que evitam, por exemplo, que alguns conteúdos sejam acessados pelos filhos.
— Tanto no computador quanto nos celulares, existe uma opção de “controle parental” no qual os pais habilitam aquilo que os filhos podem ou não fazer nos aparelhos — ensina Simone Markenson, coordenadora do curso de Ciência da Computação da Unisuam.
De acordo com a especialista em segurança digital, ao criar uma conta no computador para seu filho usar, é possível receber relatórios que informam, por exemplo, a quantidade de horas em que a criança ou o adolescente usou o aparelho e quais foram os sites e programas que acessou.
— Neste recurso, é possível listar os sites que o filho poderá acessar, autorizar ou proibir aplicativos de serem baixados, impedir uma navegação invisível — diz Simone.
A especialista salienta que estes mecanismos não garantem, por si só, a proteção dos filhos. É preciso levar em consideração que eles vivem em sociedade e que possivelmente terão acesso a outros conteúdos por meio dos amigos. Por isso, a conversa nunca pode ser substituída pela tecnologia de segurança.