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Por que os homens não estão falando sobre fertilidade?

Por que os homens não estão falando sobre fertilidade?

Os homens representam metade da equação na gravidez. Então, porque o fardo de ter que aprender sobre fertilidade, planejar uma gestação e lidar com o campo minado da infertilidade parece sempre recair sobre as mulheres?

O papo sobre fertilidade parece genuinamente feminino. Não à toa, mulheres estão sendo convidadas para festas de congelamento dos óvulos – eventos sociais criados inteiramente para a discussão da fertilização feminina. Agora tente imaginar a mesma cena, só que com homens: um grupo de caras juntos, tomando cervejas e tendo um papo sério sobre, “Você já pensou em congelar seus espermas, parceiro?

Os homens são literalmente responsáveis pela metade da fecundação. Um terço dos problemas de fertilidade em casais heterossexuais são provenientes dos homens, exatamente o mesmo número de casos atribuídos ao fator feminino (o resto é uma combinação de fatores masculinos e femininos ou é considerado indeterminável). Fertilidade é como um time, em outras palavras, mas o peso de ter que aprender sobre, planejar um bebê, lidar com as questões emocionais da infertilidade são temas majoritariamente das mulheres. “Um em dez homens nos Estados Unidos são inférteis”, diz Tom Smith, CEO e Fundador do Dadi, uma start-up de fertilidade masculina que analisa e congela semens. “Ainda assim, toda pressão e ônus recai sobre a mulher.”

“Toda vez que você avalia apenas um membro do casal, você tem metade da história contada”, diz Michael Eisenberg, M.D, sócio e professor de urologia do Centro Médico da Universidade Stanford e Diretor do Dadi. Está se tornando cada vez mais crítico ignorarmos os homens nesses casos: um estudo de 2017 revela que a concentração de espermatozóides em homens na Europa, América do Norte e Austrália caiu mais de 50% nos últimos 40 anos – um declínio que não mostra sinais de estabilização, trazendo à tona questões como “o apocalipse da reprodução” para os homens.

Então, porque os homens não estão falando de fertilidade?
“Os homens não pensam nisso porque crescemos ouvindo que podemos ter filhos até os noventa anos”, diz Smith. Tecnicamente, isso é verdade – acredita-se que o homem mais velho a ter filho tinha 96 anos. Mas ele é uma exceção, não a regra.

“Acho que é fácil entender como a conversa e a culpa, digamos assim, caiu sobre as mulheres”, diz Nataki Douglas, M.D., diretora de pesquisa translacional para o departamento de obstetrícia, ginecologia e saúde da mulher na Universidade Rutgers e presidente do conselho médico em fertilidade feminina na start-up Modern Fertility. “Nós temos um número finito de óvulos. Perdemos eles com a idade e não produzimos novos.” Os homens não lidam com o mesmo relógio biológico; eles continuam a produzir novos espermas durante a fase adulta, apesar da qualidade cair, aumentando os riscos de mutações genéticas, nascimentos prematuros e complicações na gravidez. Em outras palavras, o esperma de um homem de 90 anos é bem diferente do de um de 30.
Quando Smith fez 30 anos, ele foi ao médico para saber o que podia fazer pró-ativamente para melhorar sua saúde. “Eu fiz todos os testes possíveis, mas a única coisa que não foi jamais abordada pelos médicos foi a minha fertilidade”, conta. Como é algo do interesse dele, ele trouxe o assunto à tona, e lhe foi dito que “ isso não é algo que é feito normalmente.”

A infertilidade masculina simplesmente não parece tão visível como a feminina, dizem os especialistas. Uma gravidez claramente evidencia a capacidade da mulher em ter um bebê e a menstruação, a grosso modo também. “Uma das principais diferenças entre o homem e a mulher é que a mulher tem mensalmente um aviso”, diz Smith. “Os homens não têm ciclos e somente descobrem se têm problemas de fertilidade se não conseguem engravidar”.

Historicamente, as mulheres quase sempre são culpadas se o casal não pode engravidar. As mulheres eram rotuladas como estéreis e, em muitas culturas, poderiam ser rejeitadas se não pudessem ter um herdeiro. Este estereótipo ainda vive entre nós. Na pesquisa da Glamour US sobre fertilidade, mais de 40% das mulheres disseram que as pessoas pensam menos nas mulheres que lidam com os desafios da fertilidade; apenas a metade delas acredita que isso se aplica aos homens. O cenário afeta também os cuidados médicos. “Até bem recentemente, não haviam muitos especialistas em fertilidade masculina”, diz o Dr. Eisenberg. “Sem especialistas na área, muitas vezes o diagnóstico não é feito corretamente.”
Sobra para as mulheres encarar de frente o assunto: “Eu acho que inúmeras vezes as parceiras são as que decidem por eles, levando seus parceiros para o médico, insistindo em realizar os testes”, diz Dr. Eisenberg.

“Culturalmente, eu acho que pode ser mais difícil para os homens falarem sobre problemas de fertilidade – isso pode ser interpretado como uma falha em sua masculinidade”, afirma Paula Brady, M.D, endocrinologista e professora assistente em obstetrícia e ginecologia do centro de fertilização da Universidade Columbia. É uma questão médica como tantas outras, apesar de não ser muito encarada como tal, diz ela. “É uma área tão significativa, emocional e culturalmente pesada, sobre a qual o diálogo aberto não foi incentivado – muito menos com os homens do que com as mulheres. Eu acho que ainda há muita luta pela frente”.

Como mudar isso tudo?

O que fará com que os homens abordem o assunto? Quando eles vão começar a fazer testes? Congelar os espermatozoides? “Essa é a grande questão”, diz o Dr. Eisenberg. “Eu recomendo que os homens chequem sua fertilidade ao menos uma vez ao ano e, se houver alguma baixa, agimos de acordo para uma melhora.”

Trazer o papo à tona – para homens e mulheres – já é um começo. O Dr. Eisenberg acredita que isso já está evoluindo. “Mais homens me perguntam seriamente sobre o tema em eventos mais sociais como jantares em grupos, não mais contextualizado em piadas, como era há pouco tempo atrás”.

Há muito a ser feito ainda. “Todo mundo conhece alguém que já passou por isso,” diz Smith. “Se os homens se tornam mais ativos nessa conversa, eles também ajudam as mulheres a não carregarem mais esse estigma.” Em outras palavras, poderia ser metade-metade.

Fonte: Revista Glamour